Vinho e tempo
Coleciono hoje garrafas vazias de um
vinho que bebi do copo e mais
docemente de sua boca.
Não ouso colecionar nada além
disso, pois a tristeza de outrora
insiste em deitar em meu
peito, pousar suas asas na alma.
Preciso apenas pensar no agora,
na urgência silente dos momentos
que juntos compartilhamos, nos
jantares preparados com
amor e felicidade.
Não devo perguntar de mim
o sentimento que você não
tem, necessitando simplesmente
sua presença em minha casa
e na vida sendo visitante ocasional.
Construo palavras feito pontes
que unem margens no
contexto ausente da saudade.
Não tenho derramado lágrimas
nesse papel, pois sei que a
passagem do tempo reflete-se em
vários outros tempos que
não são seus nem meus.
E as tintas coloridas que uso
embotam os olhos e traduzem no
branco a memória do
amor que não tenho.
Me fortaleço nas quintas-feiras
dedicadas à Santa Rita a
quem peço que interceda
por você.
E o faço na leveza da alma e na
certeza do muito que você precisa.
Não me custam as orações,
pois findaram-se a mágoa e a dor.