CALE-ME
Eu te proponho que me obrigues ao silêncio;
Que me contenha esse querer intenso, que me amordaces;
Neutralizando os ímpetos audazes, afugentando o que penso;
Mas se aderires a feito menos denso, tantos empenhos serão fugazes!
Se te permites ao poder da sedução;
Talvez te ocorra sensação que poderias me calar;
Entorpecer o meu embasbacar, me emudecer a fonação;
Porém perceberá todo esse ato vão, quando meu coração por ti falar!
Se pouco tu julgares que sejam essas tentativas;
Que te dês a teses argumentativas e palavrórios pertinentes;
Impondo panos quentes, seguindo a rota das tantas oitivas;
Que seriam improdutivas, por não calarem minhas torrentes!
Perante algo tão sublime, nada reprime o meu impulso;
Não há percalço no percurso, não há prudência maior que a ânsia louca;
Que me grite tua voz tão rouca, que persista em seu transcurso;
Mas se almejas silenciar o meu discurso – beija minha boca!