CALE-ME

Eu te proponho que me obrigues ao silêncio;

Que me contenha esse querer intenso, que me amordaces;

Neutralizando os ímpetos audazes, afugentando o que penso;

Mas se aderires a feito menos denso, tantos empenhos serão fugazes!

Se te permites ao poder da sedução;

Talvez te ocorra sensação que poderias me calar;

Entorpecer o meu embasbacar, me emudecer a fonação;

Porém perceberá todo esse ato vão, quando meu coração por ti falar!

Se pouco tu julgares que sejam essas tentativas;

Que te dês a teses argumentativas e palavrórios pertinentes;

Impondo panos quentes, seguindo a rota das tantas oitivas;

Que seriam improdutivas, por não calarem minhas torrentes!

Perante algo tão sublime, nada reprime o meu impulso;

Não há percalço no percurso, não há prudência maior que a ânsia louca;

Que me grite tua voz tão rouca, que persista em seu transcurso;

Mas se almejas silenciar o meu discurso – beija minha boca!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 27/01/2009
Reeditado em 27/01/2009
Código do texto: T1407049
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