Odeie-me

Sobre o imenso manto da noite,

carrego o alvorecer.

Entre cansões susurradas e pensamentos antigos,

venho a desfalecer.

Querer e não poder,

é o tulmuto que pergorre minha mente já putefrata,

tão amargurada fica quando a noite se torna dia.

Pesado e molhado,

é o tecido que envolve meu corpo,

tecido com seda e teias de memórias passadas e dores alojadas em um universo esquecido.

A tolice é minha marca,

o amor, a minha sina,

e o meu desejo,

é o que te percorres enquanto os sonhos não se iniciam.

Por isso feche os olhos,

sinta o vento,

ele sou eu.

Sou o vento, a noite, a neblina, os sonhos...

Deixe-me toca-lo,

deixe-me queima-lo,

e em brasa,

marca-lo.

Minhas mãos são de espinho,

e meu olhar é solidão.

Não tenho nada a oferecer,

já perdi quase tudo o que podia,

e sou egoísta,

recúso-me a entregar o que me sobra.

Mas acredite,

eu arranco tudo o que lhe resta.

De fragilidade é meu coração,

minha pálida pele, de damasco tom.

As marcas que me sobraram, estão por dentro e por fora.

Ninguém deve me amar mais,

ninguém deve... Não importa quem.

Quem me ama,

se perde,

e em tristeza,

alucína-se.

Sugo toda a luz,

então,

não me ame.

Odeie-me.