Lamento dissonante

Meu sangue andou se perdendo em

tuas veias, os versos, em algumas

palavras não ditas.

Recordo-me das canções do Chico

e da primeira vez em que ouvi

tua voz, longe, de algum lugar

do outro lado da cidade.

Tua primeira frase: “devolva o

Neruda que você me tomou”...

E o Chico fez festa, contigo,

em minha alma incontida.

Penso outros versos: “se ao

te conhecer, dei pra sonhar,

fiz tantos desvarios, rompi

com o mundo, queimei

meus navios”...

Como posso te apagar de mim

se ainda não sei pra onde ir?

Não posso mais enviar-te meus

versos, tampouco a saudade

que arrebenta o peito,

fere e sangra a alma.

Navegas em outro mar e eu

já não tenho “meus navios”.

Restaram-me alguns versos,

resquícios da poesia que

derramo aqui, feito as lágrimas

que ainda insistem em

percorrer o rosto, embotar os

olhos, estrangular garganta e coração.

E tu, onde estás que não

ouve esse lamento dissonante,

que não sabe a dor que sinto,

não lê os versos meus que

são intensamente teus?

A essa pergunta o teu silêncio

responde que tudo, ainda,

é tão somente saudade.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 26/01/2009
Código do texto: T1405877
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