Lamento dissonante
Meu sangue andou se perdendo em
tuas veias, os versos, em algumas
palavras não ditas.
Recordo-me das canções do Chico
e da primeira vez em que ouvi
tua voz, longe, de algum lugar
do outro lado da cidade.
Tua primeira frase: “devolva o
Neruda que você me tomou”...
E o Chico fez festa, contigo,
em minha alma incontida.
Penso outros versos: “se ao
te conhecer, dei pra sonhar,
fiz tantos desvarios, rompi
com o mundo, queimei
meus navios”...
Como posso te apagar de mim
se ainda não sei pra onde ir?
Não posso mais enviar-te meus
versos, tampouco a saudade
que arrebenta o peito,
fere e sangra a alma.
Navegas em outro mar e eu
já não tenho “meus navios”.
Restaram-me alguns versos,
resquícios da poesia que
derramo aqui, feito as lágrimas
que ainda insistem em
percorrer o rosto, embotar os
olhos, estrangular garganta e coração.
E tu, onde estás que não
ouve esse lamento dissonante,
que não sabe a dor que sinto,
não lê os versos meus que
são intensamente teus?
A essa pergunta o teu silêncio
responde que tudo, ainda,
é tão somente saudade.