AMOR DRAMÁTICO
Do que me adianta gritar em alta voz o inaudível?
E crer no impossível pra dissecar o que sequer se atina?
Pra que elucidar o que a indiferença ensina e pormenorizar o indescritível?
Qual a vantagem do suposto nível quando a comparação nos reduz à latrina?
Pois muito bem senhora sapiência: mostre-me o valor de minha ciência;
E quanto a ti dita inteligência: qual a beleza de teu pária interior?
Pra quê remédios se é incessante a dor? Pra que usufruir sem influência?
Se prisão e liberdade são mesma sentença, por que nadar em rio que já assoreou?
Do que me adiantam tantas letras incompreendidas?
E quanto às intenções despretendidas? E o que dizer desse desejo sem locupletação?
De que me valem as notas da canção que apenas por meu coração conseguem ser ouvidas?
Pois minhas cores só são vivas quando aspergidas nos quadros de minha solidão!
Não interessa diagnosticar o que despreza a profilaxia;
Sorriso que mendiga por alegria é qual derramamento de jasmim em lama;
Qual o valor da rama cuja seiva indiferente lhe rejeitaria?
O mesmo eu diria dessa dramática agonia que é amar quem não nos ama!