Ombro Desnudo

Teu ombro espiava,

por fora da blusa,

o mundo passar

à sua volta.

E ele nem aí!

A cidade rodava

na hora confusa

e ele silente

a observar.

Toda aquela gente

apressada, estressada,

todo aquele barulho

tentando a música abafar,

e ele a dançar.

Teu corpo guardado

sob um outono invernal

e ele desnudo

sabendo tudo

desafiar.

Teu ombro — o direito

às vezes subia

e parecia

da conversa participar,

enquanto o irmão dormia,

mal se fazia notar.

Da conversa,

gravada na memória,

fez-se compromisso

disperso no ar.

Mas a imagem de teu ombro,

tão bela e perversa,

isso foi outra história,

mais difícil

de arquivar.

Pensei até em processá-lo

— apenas teu ombro

tão sexy e fogoso

e condená-lo

por assédio doloso.

Mas teu ombro sorria

— não sei como, mas sorria

e pulava, dizendo:

— Tô nem aí!