O silêncio dos móveis
A casa acolhe tua partida em mim,
cúmplice do desespero que a
solidão insere na alma,
impregnada no sal das lágrimas
que escorrem pelo rosto.
Ouço apenas o barulho incessante
dos ponteiros de um relógio
que, na parede, insiste em dizer
que o tempo não pára, que
ele segue, aflito e a passos largos,
marcando as horas em que não te vejo.
Tento recusar os versos, dizer
não à construção arquitetônica
do poema que se
impõe a minha vontade.
Inútil...
Como inútil é fingir que
não mais penso em ti.
O silêncio dos móveis compartilha
comigo o segredo de uma dor
que ainda não quer passar,
de uma ausência premente que
afoga a alma, inunda
os olhos e os versos.
Penso em Vinicius e no
poema “Os bens imóveis”.
Nele, o eu lírico confidencia
a falta da amada, a angústia
que se revela na casa.
Aqui, o silêncio que perpassa
a alma está repleto de ti,
na memória de um tempo passado,
na delicadeza de um sentimento
dividido, entre os objetos que
tocaste e na dor que
se revela ainda intensa em mim.