O silêncio dos móveis

A casa acolhe tua partida em mim,

cúmplice do desespero que a

solidão insere na alma,

impregnada no sal das lágrimas

que escorrem pelo rosto.

Ouço apenas o barulho incessante

dos ponteiros de um relógio

que, na parede, insiste em dizer

que o tempo não pára, que

ele segue, aflito e a passos largos,

marcando as horas em que não te vejo.

Tento recusar os versos, dizer

não à construção arquitetônica

do poema que se

impõe a minha vontade.

Inútil...

Como inútil é fingir que

não mais penso em ti.

O silêncio dos móveis compartilha

comigo o segredo de uma dor

que ainda não quer passar,

de uma ausência premente que

afoga a alma, inunda

os olhos e os versos.

Penso em Vinicius e no

poema “Os bens imóveis”.

Nele, o eu lírico confidencia

a falta da amada, a angústia

que se revela na casa.

Aqui, o silêncio que perpassa

a alma está repleto de ti,

na memória de um tempo passado,

na delicadeza de um sentimento

dividido, entre os objetos que

tocaste e na dor que

se revela ainda intensa em mim.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 25/01/2009
Código do texto: T1403178
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