Recolhimento
Recolho todos os versos, todas as
liras cansadas e as canções
que não mais tocarão em mim.
A Poetisa recusa os poemas.
A Bacante recolhe os desejos,
o querer insano e agridoce por ti.
Assim o queres.
De forma incisiva o pediste.
Não, imploraste.
O Mestre Dissoluto esqueceu
o papel, reverteu a ordem
direta dos fatos e ajoelhou-se
aos pés da Bacante
e da Poetisa.
Da Bacante pediu que
o livrasse das tentações.
Da Poetisa, que não o tentasse
com os versos, pois a palavra
tem o veneno que, em excesso,
estrangula sua vontade, seu
desejo de partir, de se tornar um outro.
Na madrugada, um galo distante
tece seu discurso do amanhecer.
Nessa mesma madrugada,
Poetisa e Bacante procuram entender.
O sono de ambas foi deixado
nos braços de Morfeu, amante
ciumento, que as oferece
ao Deus da insônia amorosa.
Tu disseste que o discurso da
Poetisa contradiz a linguagem da Bacante.
Tens razão, Mestre que és, mas não
entendes que uma complementa a outra.
Uma, corpo – Bacante.
Outra, alma – Poetisa.
Mas não tens tempo para compreender,
porque tua vida segue outro rumo,
e precisas controlar o timão e,
ao mesmo tempo, ler o astrolábio.
Poetisa e Bacante já não
são a rosa- dos- ventos.
Esquece a Poetisa...
Relega a teu passado a Bacante.
Aqui adormecem os últimos versos
e, no teu adeus, a última palavra.