Recolhimento

Recolho todos os versos, todas as

liras cansadas e as canções

que não mais tocarão em mim.

A Poetisa recusa os poemas.

A Bacante recolhe os desejos,

o querer insano e agridoce por ti.

Assim o queres.

De forma incisiva o pediste.

Não, imploraste.

O Mestre Dissoluto esqueceu

o papel, reverteu a ordem

direta dos fatos e ajoelhou-se

aos pés da Bacante

e da Poetisa.

Da Bacante pediu que

o livrasse das tentações.

Da Poetisa, que não o tentasse

com os versos, pois a palavra

tem o veneno que, em excesso,

estrangula sua vontade, seu

desejo de partir, de se tornar um outro.

Na madrugada, um galo distante

tece seu discurso do amanhecer.

Nessa mesma madrugada,

Poetisa e Bacante procuram entender.

O sono de ambas foi deixado

nos braços de Morfeu, amante

ciumento, que as oferece

ao Deus da insônia amorosa.

Tu disseste que o discurso da

Poetisa contradiz a linguagem da Bacante.

Tens razão, Mestre que és, mas não

entendes que uma complementa a outra.

Uma, corpo – Bacante.

Outra, alma – Poetisa.

Mas não tens tempo para compreender,

porque tua vida segue outro rumo,

e precisas controlar o timão e,

ao mesmo tempo, ler o astrolábio.

Poetisa e Bacante já não

são a rosa- dos- ventos.

Esquece a Poetisa...

Relega a teu passado a Bacante.

Aqui adormecem os últimos versos

e, no teu adeus, a última palavra.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 20/01/2009
Código do texto: T1395059
Classificação de conteúdo: seguro