Calendário
Refiz meu calendário no dia
em que reencontrei você.
Nas aflitas horas do tempo escrevi
poemas dedicados a você, vindos
do fundo da alma, aflorados
na pele do desejo incontido.
Bebi de sua boca palavras de frutos
doces e ouvi melodias dissonantes
no barulho inconteste do seu coração.
Meu tempo já é outro na memória
que a saudade filtra, na angústia
do relógio, no toque suave de suas mãos.
Estou presa na bruma leve que
espalha as letras pousadas nesse
papel e tento juntá-las à emoção
que finda as lágrimas fragmentadas
em meu rosto onde os olhos
procuram insanos os seus.
Você, distante do meu peito,
alheio ao afago do corpo quente
e molhado, na sedução pulsante
dos movimentos, na busca
desenfreada da felicidade fortuita
de raros momentos.
Nada tão definitivo em seus gestos
que me faça recuar na muralha
da vida a se erguer entre nós.
É seu coração oculto na concha
dos sentimentos semeando nas
entrelinhas do passado, preparando-se
para a colheita tardia.
Hoje sou como o trigo espalhado
pelos campos à espera de mãos
acolhedoras ou simplesmente de
um amor não meu que há na
esperança delicada do seu sorriso.