Calendário

Refiz meu calendário no dia

em que reencontrei você.

Nas aflitas horas do tempo escrevi

poemas dedicados a você, vindos

do fundo da alma, aflorados

na pele do desejo incontido.

Bebi de sua boca palavras de frutos

doces e ouvi melodias dissonantes

no barulho inconteste do seu coração.

Meu tempo já é outro na memória

que a saudade filtra, na angústia

do relógio, no toque suave de suas mãos.

Estou presa na bruma leve que

espalha as letras pousadas nesse

papel e tento juntá-las à emoção

que finda as lágrimas fragmentadas

em meu rosto onde os olhos

procuram insanos os seus.

Você, distante do meu peito,

alheio ao afago do corpo quente

e molhado, na sedução pulsante

dos movimentos, na busca

desenfreada da felicidade fortuita

de raros momentos.

Nada tão definitivo em seus gestos

que me faça recuar na muralha

da vida a se erguer entre nós.

É seu coração oculto na concha

dos sentimentos semeando nas

entrelinhas do passado, preparando-se

para a colheita tardia.

Hoje sou como o trigo espalhado

pelos campos à espera de mãos

acolhedoras ou simplesmente de

um amor não meu que há na

esperança delicada do seu sorriso.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 16/01/2009
Código do texto: T1387707
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