De Tanto Amar-te
De Tanto Amar-te
Teus cenários tocam meus olhares
Enquanto florescem silêncios em meus lábios
Para te sentir é preciso que me dispa das palavras.
Bebo da doçura da cumplicidade que contemplo
Refletida no leque de cores que me abres.
Colho o sol da tarde, a música do mar
E o cheiro de poesia que anuncias
Na concha rumorosa das tuas mãos.
Detenho o desejo da proximidade
A chama dos impulsos e desassossegos.
Deito um sorriso nas asas do dia
Que voa para além do horizonte.
O último raio de sol, feito pombo correio
Parece te levar o gosto de malvasia
Com que vesti os beijos meus.
Estendem-se meus dedos, tal qual aragem
Como se pudessem envolver e alcançar
A nudez dos teus encantamentos.
Há uma urgente ternura a caminhar
Alinhando o ritmo do meu coração ao teu.
Selo a contração do dizer-me
Dobro o estremecimento do sentimento.
Sustento gestos, detenho as aflições,
Ainda que escorram das minhas mãos
Rios de carícias, oceanos de emoções.
Guardo as auroras que anseiam descerrar
A noite que cobre os olhos teus.
Resigno meu sentir às fronteiras do silêncio
Casso o passaporte das confissões
Dos tantos afagos, cheiros e sabores
Que habitam a pátria dos meus sentidos.
Como fazê-los compreender que tua pele
É ainda terra distante, caminho estrangeiro?
Meus passos viandantes apenas dedilharam
Os corredores e desvãos da tua alma.
Um dia, quem sabe, rebele-me
Desencontrada de qualquer silêncio
Liberta das muralhas da hesitação
Insubordine-me de qualquer contenção
Delatando minha sede em tua boca
Será então, tempo de abrir mares
Desancorando este amor desmedido.
É que sempre foste bússola
Cruzeiro do sul, rosa dos ventos
A guiar o destino do meu peito.
É que sempre foste meu encontrar
Com o pulsar de qualquer sílaba
Entoada pelos lábios da vida.
© Fernanda Guimarães