RETRATO A DORES
Olho-te, a papel e cores,
na cabeceira da minha saudade...
Viro-me, reviro-me, levanto-me.
E o teu olhar segue-me,
levemente irónico,
levemente amante,
distante.
Presente.
E eu, carente,
seguro o retrato,
deito-te a meu lado...
mas o teu olhar deixa-me,
perdido no tecto,
alheio ao deserto
do árido leito...
E nem as lágrimas
regam oásis,
e nem as páginas dos meus lençóis,
onde escondo ânsias,
te fazem brotar,
em corpo e carne,
tronco e árvore,
paixão e fruto,
para me dar afago e alento!
Perco-te, na penumbra...
...em papel e sombra...