Presença

Não há sombras em ti,

nem mesmo lembrança:

alado, voas para perto de mim.

Tu me dás teu olhar, teu sopro, teu calor.

Não procuramos o lado de lá,

pois não há distância:

somente o peso das emoções,

dos olhos abertos aos limites de nós mesmos,

O presente preciso infinitamente real,

sem depois, sem além.

Quando voas para detrás da colina,

é como um vazio sem perda.

Numeroso, sem derivativo, um vazio

envolvendo o que seria o nó dos corpos,

um fim de mundo onde a dúvida é destruída,

onde nada falta, onde tudo é nada.

Teus olhos nos meus, meu coração no teu,

sem esquecimento, sem traço, sem luz, sem noite.

Tu, tão logamente procurado,

pois, por ti, não preciso mais dos sons sem espessura,

do vento irresoluto, dos fios cruzados, das semelhanças.

Onde o azul em que tu flanas feliz, meu amado?

Sei, sinto teu cheiro por perto, logo voltarás:

certeza de ter de volta os arrulhos,

ah, como me apraz!

Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 12/01/2009
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