Fogo “amigo”

Em homenagem a Machado de Assis (1839 – 1908)

Não sou culpado das desgraças alheias

Amei como se tu a mim foste

Venerei-lhe como a uma santa no altar

Gastei as energias que possuía

Utilizei todos os recursos

Batalhei com o escudo da dor latente

Lutei com o capacete da paixão

E gritei como o último cantor do palco

Durante a guerra não foram poucas as bombas do fogo “amigo”

Da artilharia da labuta nada sobrou

Perdi a guerra, mas lutei e lutei em meu terreno covardemente invadido

Ao longe observei o inimigo sorrateiramente tomar conta

Acompanhado ele fez marcas, matou sonhos, pisoteou a honestidade

Assassinou a fidelidade e credenciou a inexistência da felicidade

Abriu ferida no coração da lealdade e beijou o meu rosto com o olhar da vingança

Neste instante vejo com claridade os passos ingênuos das bombas jogadas

Derrotado, mas não humilhado, digo que lutei, briguei como ninguém, amei como pude

Perdi a guerra e me afastei da batalha

Não consigo guerrear na injustiça

Armar e amar ao mesmo tempo

Sem o terreno não tenho mais como plantar as batatas

Sem batatas e sem amor caminho com galhardia entre as bombas a cair.