Triste é a despedida
As veias são tubos de aço
São duros tubos de aço de todos os formatos
Todos os calibres
Onde o sangue busca espaço para levar suas elucubrações apaixonadas
Aos corações desajeitados.
E de lá saem sangues contaminados
Por seus pecados amorosos,
Seus lascivos e não ingênuos pecados.
Ventrículos fábricas de sonhos lúgubres
Que bombeiam para fora, para o corpo, seus devaneios amorosos
E amados
Bomba cara
Bomba fértil e insana
A lucidez do coração se vai
Com a infância
Coração que ama e não é amado
O seu sangue já está no meu peito
Sua boca já está nos meus olhos
Seus olhos já estão na minha mente
Sua boca não está na minha boca
Inexorável coração
Válvula fúnebre
Cheia de ecos do passado
Cheio de erros e abandonos
Mambembe coração
O alarde silencioso e interno da presença
O alarme, a oração intensa
O sôfrego coração
Que necessita de amar.
E de amor de volta.
Feliz é o ser sem coração
Sem o atroz tic-tac cardíaco
Sem o medo de se apaixonar
Sem conhecer o amor, sem amar
Sem o zodíaco de “bem-me-quer”es e “mal-me-quer”es
Sem os breves surtos de loucura
Sem ter a doença sem cura
Felizes os incididos no lado esquerdo do peito
Os desfalcados de inútil órgão
Que só sente, não faz.
Que só mente, não diz.
Feliz eu.
Triste porém é a vida
Tristes os que compartilham dela.
E triste a que cai por um desses felizes seres
Triste a moça que se apaixona por quem não tem coração
Triste a razão agora.
Tristeza chora.
Triste é tudo.
E tudo é cinza.
Triste é o mundo, feito cinzas
De cigarro
Triste é o estado de quem ama sem amor
E deseja sem paixão
Triste é ter coração
Triste é o coração.
Triste é não ter o chão por não ser amado.
Triste é o fado de amar.
Triste é a palavra perdida
Triste é a vida.
Triste é a moça a quem só resta a maldita
Despedida