AMOR COM CHEIRO DE TERRA

Cai uma chuva fina, que delicadamente

beija as folhas e o chão.

Cai uma pétala em desalinho, no meio da escuridão.

Águas de chuva são mais do que pingos,

são ouros gotejando o mundo.

Cai chuva sobre meu rosto, escorre pelo meu corpo.

Lava-me a alma sob este céu ditoso.

Rodopio sem cantar para não acordar os anjos.

Rodopio sem parar.

Ah, chuva, que balançar é a minha vida neste molhar.

Cai chuva fina em todo o mundo e em mim.

E eu continuo a rodopiar, esquecendo o tempo que segue a passar.

Sorrio, pois penso que vou voar

e esqueço que não possuo asas. Num último rodopio

na madrugada, caio entregue no chão.

Molhada, cansada, ardente de sede

pela madrugada. Vê pois que não tenho nada,

nada mais que meu próprio corpo.

No entanto, minhas mãos molhadas,

frias e enrugadas são puro êxtase

por serem amadas.

Cai chuva sobre o meu rosto,

fina chuva. Levando todos

meus desgostos.

Nesta beleza encantada, agora sim,

posso dormir sossegada. Com cheiro de terra

e de ser amada.

03/03/2005