Quebrando o silêncio
Edson Gonçalves Ferreira
Ontem, à noite, enrolado numa manta
Assistindo à televisão, senti uma pressão sobre minhas pernas
E, quando olhei, vi que o Menino entrara
Ele começou a pular em cima da minha barriga
E gritava: Epa, cavalinho, epa!
Tomei-O nos braços e ralhei com Ele
Disse-Lhe que me respeitasse
Que eu ainda vivia o drama da perda de uma amiga
Ela arrumara para ir ser minha chefe
E, invés de festas, tivemos o seu velório
O Menino não ligou e, olhando-me bem no fundo dos olhos, disse-me
Na casa do meu Pai tudo está em festa
Ela já cumprira a sua missão
A vida é uma liturgia
O ritual de cada um está escrito
O seu, poeta, é mais longo, muito mais
Eu tentei fugir do seu olhar
Eu tentei parar de pensar
Queria apenas assistir à televisão e não pensar mais
O Menino, contudo, pegando-me pela mão, conduziu-me à sacada
E, mostrando a floresta lá no fundo, debaixo da lua branca, lembrou-me
Assim como as estrelas iluminam a sua vida
Vocês, humanos, têm que se lembrar de serem estrelas
Estrelas na vida de outras pessoas
E, assim, quando não estiverem mais aqui,
Ainda haverá um rastro de luz no céu
Das ações benfazejas que vocês fizeram
E, sorrindo, desapareceu.
Divinópolis, 07.01.08