Um dia de janeiro...

Inesquecível!... Era um dia de janeiro...

Adamantina manhã de encantamento,

Testemunha ocular do nascimento

De amores, o poema mais verdadeiro!

Consumado ninho de horas roubadas

Da eternidade contida em cada segundo,

De anelos frementes tais setas ao mundo,

Que por destino anunciam flechadas

Cupidos de tez multicores e luzentes

Plantando-me expectativas douradas

De fina aridez e solidão adubadas,

Num ermo canteiro de terras ardentes

Verão de fogo apresenta-me a face

Arrancando-me da planície o prumo

Em mirar-lhe, o coração sem rumo,

Despede-se do velho e tímido alce

Com suavidade, em plumas de encanto,

Arrulhante pássaro pousa-me à mão

Estrofe primeira desabrocha então,

Suspirando-me o nome; inefável canto!

O verde se fez verde em flora e versos

Azul de tons diversos, em ricas rimas pintei.

Arrebatado, as águas da imaginação mergulhei,

E do âmago resgatei sentidos submersos

Resgatei-me amor de amar verdadeiro

Resgatei-me ousadia em renascimento

De poesia um ninho ofertei por firmamento,

Àquele dia de sonho de insólito Janeiro.