Aridez
Sou só uma criança perdida
Na rua escura
Só infância perdida
Em cima do muro
Sou a louca partida
De futebol
Na areia, na grama, na cama
Sob o sol de dezembro
Sob o mês de setembro
Sob o nada que lembro
Sou só uma criança perdida
Entre os seus braços
Bebendo os abraços
Da minha vida
Sou a louca partida
Do amante
Sou depois, o agora, eu sou o antes
Sobre o peso eterno
Sob o calor do inverno
Sob o frio do inferno
Sou só uma criança vadia
A infância arredia
Rindo a revelia
Do nada que se tem para rir
Sou a louca batida
Do coche
Sou o centro, a direita, eu sou gauche
Sou a hora marcada
Sou a bola parada
Sou amada e amada
Sou só uma criança qualquer
Sou moleque
Sou homem, mulher
Sou o que quiser
Sou a louca batida
Da vida
Desviada, encontrada, perdida
A incógnita inibida
A derrota coibida
A vitória infligida
Sou só uma criança!
Que enche a pança
E se lambuza
Que o povo sem escrúpulos usa
Sou a louca romaria
Sem rumo
Sem vida, sem ego, sem prumo
Sou a derrocada ávida
Eu sou a paisagem pálida
Eu sou a pele árida.