ATO DO POETA

O irmão

O que te resta, oh sim pobre poeta cansado?!

Alentas-te de teu caminho tosco

E deixa a bela donzela em paz!

O perigo que rondas teus versos insanos

Pra ela é demais.

O poeta

Meu caminho pode ser turvo mas quem te assegura

Que tal porto seguro

Não seja o porto do cais

Que ela só pode encontrar

Se estiver em meu mundo?

O irmão

O que não se deixa por convir é o que pode

Oferecer a branca dos olhos claros

Que persistes em ir atrás

Da fonte de poesia, trovas e rimas têm analisado

Do modo mais análogo por sorte

Palavras não alimentam jamais.

O poeta

Não seja tão descrente da força de quem lê

Hora estou certo por crer

Que há de existir nos longínquos distantes

Amantes que podem nos suster!

A branca

Já não é certo que discutais

Sobre qual futuro hei de desejar

Se por amor que vivo hei de por amar

Achar quem nos sustentais

Por complacência da nossa felicidade

O que vos digo é a mais pura verdade

O irmão

Cala-te que quem decide o que é bom

Ou ruim sou eu!

Pois não foram breves os momentos do som

Do tinir dos dentes na fome, praguejei contra Deus

Por ter levado nossa família tão cedo

E por ter permitido de ti este desejo.

O poeta

Não fale assim com a dama

Que tal o Jardim maravilhoso

Tem gênio tão dengoso

Que esta má fama

Que me precede

No meu amor se padece.

A dama

Pois saiba que pode o céu desabar

E o infinito ter um fim,

Que todo o meu amar

Nunca vai mudar e sempre será assim

Do modo que seus lábios são meus lábios

E que não me imagino sem você ao meu lado!

O poeta

E meu sentimento não te supera e nem fica atrás

Porém se iguala por quem não existe o tu nem e nem nós

Somente a voz que em meu peito ecoa

Num silencio que me tira a paz.

O irmão

Se for assim então se arme e duelaremos até a morte

Como dois indigentes pela honra de minha irmã

E garanto que analisando como és forte

Estará morto pela manhã.

O poeta

Minhas armas não são as espadas

Pois elas para mim são um nada

Mas esqueci-me que pessoas ignorantes

Não reconhecem a força das palavras!

O irmão

Vai se arrepender por me insultar

Ou acha que as suas folhas de papel

Vão poder te salvar?

Amanhã estarás no céu!

O poeta

Ora pelo menos este vai ser o meu lugar

E garanto-vos que o lugar onde vais parar

Só tem enxofre, cinzas e fogo!

No tormento dos mortos!

A dama

Por favor, pareis com isso

Não briguem por mim

Ou nenhum de vós

Vai ficar comigo

O irmão

Estais a ver as lagrimas nos olhos de minha irmã?

Percebe o quanto mal a fazes?

Vá embora pra sempre

E tua vida vê se refazes.

O Poeta

Bom, agora vejo que realmente é um erro

Ficar aqui por meu coração

Pois quem nasceu para o sucesso é do sucesso

E quem nasceu pra solidão é da solidão.

A dama

Não me abandone aqui

Ou já esqueceu de suas promessas e juras?

Que se chorasse ia me alegrar

E se adoecesse ia achar a cura!

O poeta

Querida dama por quem tanto sofro

Não pense que vou por causa de ameaças

Mas sim por que você tem futuro

E eu sou um simples nada

O irmão

Disto realmente fala a verdade

Como pode algum poeta enriquecer?

Se pelo poema é que ganhas

E se nenhum poema vender?

A dama

Crês que indiferente

De nossas posições sociais

Seremos felizes

Como puramente seres racionais e emocionais?

O poeta

Há uma linha que nos divide

E nem eu e nem você

Fomos os que traçaram

Mas o que podemos fazer?

A dama

Cruzá-la pra rumo ao infinito

De um mundo vindouro

Onde não haja guerra

E ninguém mate por ouro.

O irmão

Cala-te já mandei

Aqui eu sou juiz

Se não me ouviu por bem

Saiba que faço a lei

O poeta

Veja o que faz

Nunca vou deixar

Que com sua tirania e arrogância

Possa a dama machucar

A dama

Não! O que você fez?!

Esfaqueou meu enamorado

Não te conheço mais

Aparta-te do meu lado!!!

O irmão

Que morra!

Desde que ele apareceu

Meus problemas começaram vão me agradecer

Por este homem que morreu.

A dama

Não vá ainda bom poeta

Por favor me espera

Que sem você junto comigo

De viver não estou certa.

O poeta

Tem de ficar pra presenciar

O que vai se erguer da montanha

Meu sentimento por você bela dama

Jamais vão acabar.

Quero que vivas que enquanto viver

Meu sonho não morrerá

E todos vão se arrepender,

Aí, eu na minha solidão

Presenciarei com resquício de alegria

O dia da revolução...

A dama

Até a próxima vez

Espero-te na outra vida

O irmão

Vamos embora

Esta passagem é só de ida

O poeta

Eu voltei do mundo dos mortos só pra dizer

Que Bela Dama:

Eu amo você!!!...

A voz do poeta calou-se

Pra despertar nos versos da nova poetiza

Que ali nascia.