Teus olhos...
I
Teus olhos doces eram da cor do mel...
O teu cabelo, um trigal maduro...
Eram, de dia, estrelas do meu céu;
Eram, à noite, meus sonhos do futuro...
Tua boca produzia sons maviosos,
Falavas terno, docemente a mim...
Teus beijos sempre eram maravilhosos
E eu gostaria que não tivessem fim...
Se o orvalho da manhã nos encontrava
Umedecendo nossos pés, já nos saudava,
Pois nunca vira um amor assim...
E nos teus lábios feliz eu me encontrava
Refletindo brilho que me completava,
Vindo dos teus olhos, para não ter fim!...
II
Então a vida, ardilosa e comum,
Quebrou-nos o encanto, na flor da mocidade,
Partiu-nos em dois: nós que éramos “um”...
E assim se foi nossa Felicidade...
Passaram anos; as noites tão geladas
Foram cruéis! Ficamos duas metades,
Seres incompletos! Carícias tão lembradas
No seio virginal... Tão cheios de saudades...
Outros rumos seguimos: não fomos felizes!
Buscávamos “aquele amor” de nossas raízes,
De uma quase-infância, perdido assim no tempo...
Sofremos muito... Sempre com a lembrança
Do amor virginal, de quando, qual criança
Juramos um ao outro... Perdido em contratempo!
III
Quase quarenta anos se passaram!...
Não vivemos! Um ao outro procuramos...
Mas a vida não perdoa aos que erram
Nem se importa com o muito que choramos...
A sorte foi lançada: e eu perdi...
Talvez o meu castigo fosse mais pesado...
Talvez nunca percebas: eu sofri!!...
E quanto, nesses anos, meu amado!...
Tua visão constante nos meus sonhos...
Os teus olhos de mel em cada estrela...
A minha intensa dor de haver magoado...
Agora, somos outra vez risonhos...
Vemos a felicidade!... Mas como obtê-la,
Se proibida a nós, pois já é passado?...
IV
- E o muro entre nós é intransponível...
Mas é bom saber que, de cada lado,
Há eterno Amor, mesmo que impossível...