Desesperança

Se o toque de leve desfaz a nuvem

Em um breve sussurro levito solto

E o espaço me suga como a um corpo estranho

Em um buraco profundo, em um vão entre o mundo

Eu repito a palavra, a língua apanha

E o corpo imundo me prende em um laço

E a neve me cobre, parto em pedaços

Eu escuto os seus passos e o seu ritmo lento

Eu ouço a sua respiração

Ainda sinto o vento e a poesia

Ainda há o momento ainda há a vida

Por enquanto

Se a garganta ainda cala a vibração das cordas

A voz fala, ainda que rouca, o que quer falar

E se a lágrima é pouca e a saliva é grosseira

O arrependimento fica preso entre os meus olhos e os meus dentes

Como a chuva passageira que chega de repente

E logo parte com uma marca superficial e negra

E para trás deixa nada mais que terra úmida

E o berro dos desabrigados, e a água mansa

E se o eco não é o suficiente para notar-se só

É como se pó fosse o que resta da esperança

E a esperança é um nó no peito

Pelo menos por enquanto

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 05/01/2009
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