Desesperança
Se o toque de leve desfaz a nuvem
Em um breve sussurro levito solto
E o espaço me suga como a um corpo estranho
Em um buraco profundo, em um vão entre o mundo
Eu repito a palavra, a língua apanha
E o corpo imundo me prende em um laço
E a neve me cobre, parto em pedaços
Eu escuto os seus passos e o seu ritmo lento
Eu ouço a sua respiração
Ainda sinto o vento e a poesia
Ainda há o momento ainda há a vida
Por enquanto
Se a garganta ainda cala a vibração das cordas
A voz fala, ainda que rouca, o que quer falar
E se a lágrima é pouca e a saliva é grosseira
O arrependimento fica preso entre os meus olhos e os meus dentes
Como a chuva passageira que chega de repente
E logo parte com uma marca superficial e negra
E para trás deixa nada mais que terra úmida
E o berro dos desabrigados, e a água mansa
E se o eco não é o suficiente para notar-se só
É como se pó fosse o que resta da esperança
E a esperança é um nó no peito
Pelo menos por enquanto