AMOR NAS ENTRELINHAS

Posso ver tua inocência doce ninfa dos perversos sonhos

Cuja alma rica lembra-me, insólita, amores não existentes

Como a dorida forma, pálida, dos funéreos pomos!

Pois esta vida produz fados entre seus lábios e dentes

Com mordidas augurais, sem cortes e sem sangue

É a magia que envolve toda volúpia carnal humana

A infantil orgia dos envelhecidos, as bocas exangues

As murchas vozes e a dor que do abandono emana

No sorriso patético e ridículo desta melancólica juventude

Que procria fetos de vontades imutavelmente insensíveis,

Porque não se pode saborear o gosto de seu sexo e amiúde

Ri-se dos pobres, dos poetas, dos mais sensíveis

O amor é uma ilusão irrespondivelmente querida

Neste peito que é ninho de tantos sonhos intangíveis

Que esperam por um corpo que lhes permita guarida

Um coração sem lugar para sentimentos perecíveis!