O TRANSGRESSOR ARREPENDIDO
Eu não consigo nem sonhar com esse mar de solidão;
E a desolação que me seria estar perdido nessa cama vazia;
Não me perdoaria por ser autor de minha própria destruição;
E de desgosto em função de meu ímpeto vilão, eu sei que morreria!
Quisera ser capaz de ser bem mais que esse impulso a me induzir;
E não deixar me seduzir pelos assédios fulminantes do prazer;
Mas quando dou por mim já não consigo me conter, e assisto a transgressão me engolir;
Pra minha consciência ferir e me assombrar com esse medo de lhe perder!
Ela não sabe de meus duplos dramas e ignora minhas traições;
Na inocência de suas ilusões, recebe com ternura o meu corpo utilizado;
Então lhe amo como um homem imaculado, fingido ter ignorado as tentações;
Para ludibriar o terror das imaginações e o medo de por ela ser rejeitado!
Somente esse remorso conhece a exata dimensão de minha dor;
E me condena pelo que sou, esse escravo de tropeços e percalços;
Mas meus apelos não são falsos, ainda que meu corpo seja ébrio do despudor;
Esse andarilho que jamais se libertou, não sobreviveria sem o calor de seus abraços!
Assim prosseguem minhas madrugadas, onde assustado procuro por ela;
Um inseguro sentinela a quem o pesadelo revela estar à beira do terror;
Se noutras camas me perco por quem me invocou, eu só me acho ao lado dela;
Que me ama e me vela, que não merece esse meu vício de apaixonado transgressor!
"Algum perdão para a declarada traição? Que respondam nossos atos não confessos"