O TRANSGRESSOR ARREPENDIDO

Eu não consigo nem sonhar com esse mar de solidão;

E a desolação que me seria estar perdido nessa cama vazia;

Não me perdoaria por ser autor de minha própria destruição;

E de desgosto em função de meu ímpeto vilão, eu sei que morreria!

Quisera ser capaz de ser bem mais que esse impulso a me induzir;

E não deixar me seduzir pelos assédios fulminantes do prazer;

Mas quando dou por mim já não consigo me conter, e assisto a transgressão me engolir;

Pra minha consciência ferir e me assombrar com esse medo de lhe perder!

Ela não sabe de meus duplos dramas e ignora minhas traições;

Na inocência de suas ilusões, recebe com ternura o meu corpo utilizado;

Então lhe amo como um homem imaculado, fingido ter ignorado as tentações;

Para ludibriar o terror das imaginações e o medo de por ela ser rejeitado!

Somente esse remorso conhece a exata dimensão de minha dor;

E me condena pelo que sou, esse escravo de tropeços e percalços;

Mas meus apelos não são falsos, ainda que meu corpo seja ébrio do despudor;

Esse andarilho que jamais se libertou, não sobreviveria sem o calor de seus abraços!

Assim prosseguem minhas madrugadas, onde assustado procuro por ela;

Um inseguro sentinela a quem o pesadelo revela estar à beira do terror;

Se noutras camas me perco por quem me invocou, eu só me acho ao lado dela;

Que me ama e me vela, que não merece esse meu vício de apaixonado transgressor!

"Algum perdão para a declarada traição? Que respondam nossos atos não confessos"

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 03/01/2009
Reeditado em 03/01/2009
Código do texto: T1365782
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