O CEGO E A FEITICEIRA
Tu alteras todos os meus índices e elevas minhas quotas;
Escancaras minhas portas e sem licença aportas no meu cais;
Agigantas meus lucros reais, quebra os lacres das tímidas comportas;
Restitui minhas derrotas e alavanca o meu valor pra muito mais!
Tu visitas meus recônditos e decoras com tua luz os meus átrios;
Ajardinando meus íntimos pátios, tremulando de paixão em mim;
Irrigando meus poros com teu jasmim, subvertendo meus tatos;
E até por telepáticos contatos, converte meus incolores em carmim!
Tu mergulhas em meus canais salivares esse teu beijo de jaqueira;
E não te lanças menos do que inteira na superfície de minha plenitude;
Passeia em mim qual dedilhar do alaúde, me instiga com tua boca feiticeira;
Sem eira e nem beira, elevando os níveis febris dessa patológica saúde!
Tu és assim, desses sonetos que somente o sublime compõe;
Algo que me sorve e me repõe, celsa devoção a que me entrego;
Se me aceito ou se me nego, indiferente o destino te impõe;
O meu amor adere a tudo que lhe propõe, porque por ti já é completamente cego!