Verbos imperfeitos
Estou em você, nesse momento melífluo,
onde tudo se condensa no nada.
Sou você, no sentido que extrai de minha
serena e poética alma a
dor que passeia intranqüila pelo corpo.
Ando a passos lentos nesse apartamento
que guarda fragmentos de minha
vida obscura e secreta.
Cometi muitas loucuras no pouco
tempo que passei quase só, estando
inteiramente e nua, somente só.
Tenho a liberdade há tempos
desejada, mas não lugares onde
possa eu bater minhas asas feito
a borboleta que ainda sou no
contexto vivo da solidão que mora em mim.
Pergunto por onde vagueia a minha
alma de tão carregada de amores
imperfeitos, não as flores, apenas o
desejo incompleto que pulsa no
coração maduro e aflito.
Caio constantemente na rede que
se forma ao meu redor.
Tento mesclar a razão com a emotividade
que sobressai à margem de todas
as ilusões por mim vivida.
Observo que ainda tenho sonhos e
talvez pouco tempo para realizá-los.
Vejo que ainda não sou um terreno
morto, castigado pela seca e
pelas intempéries da vida e do amor.
Construo poemas na extensão
das lágrimas que sobreviveram
à desilusão incontida.
Escrevo linhas soltas que unem
as palavras e refletem dos olhos
mais do que o dia ou a noite.
Procuro, talvez, ainda, por você
em algum espaço perdido no tempo.