O susto do Menino
Edson Gonçalves Ferreira
Ontem, de madrugada, escutei um grito de criança
Levantei, depressa e vi, na porta do quarto o Menino
Estava pálido e, então, perguntei-Lhe o porquê de tamanho espanto
Tem uma perereca no chão do seu escritório, Pardal
Cai na gargalha e Ele, na hora, enfezou
Ralhou comigo, dizendo que colocar um segura-porta assim é feio
Falei para Ele que ganhara de uma amiga
Que até que a perereca de pano, verde,
Com pintas amarelas e verdes e olhos esbugalhados não é feia
Ele, então, o Menino já tranqüilizara
Eu pegara a perereca de pano e colocara em suas mãos
Ele, naquele instante, começou a rir de Si mesmo
Desculpou-Se porque assustara
Falei que isso era comum numa criança
Mesmo que Ela fosse o Filho do Homem
Sim, poetinha, respondeu-me, eu sou de Carne e Osso como você
Contei-Lhe, então, que assistira ao filme "O código Da Vinci", ontem
Baseado no livro que fala da humanidade Dele
O Menino disse-me que, em momento algum, negou a Sua humanidade
Meu Pai está acima de mim como o seu estava acima de você
Tudo o que você me pedir, através do Meu Pai, posso ver se atendo
Quando assumi a fragilidade humana, foi uma concessão do Meu Pai
Foi por isso que me assustei com aquele bichinho no escritório
Sou apenas o Menino
Embora seja o Filho Dele, enquanto ser humano, tive todas
Todas as fragilidades que vocês, meus irmãos, têm
Tanto que morri na Cruz, não foi?
Concordei, balançando a cabeça
Depois, só ouvi um tiau gostoso, gostoso, Ele partira
Peguei no sono e dormi com os anjos
Até sininhos ouvi!
Divinópolis, 30.12.08