Epitáfio
Embriaguei-me... Subi a montanha mais alta que sonhei,
saltei de pára-quedas sobre as velas derretidas
de uma caravela que sem sombras marcavam meu destino,
fui deusa no Olimpo que criei,
sonhadora nua velejando em mares de sóbrio desatino...
Vesti-me das asas que em delta soletrei,
puxei o fio das linhas que desenhavam o percurso
entre as nuvens que meu sol não escondeu,
permutei vidas, negociei almas, solfejei,
dei o tom que queria à canção que a vida me ofereceu...
Na chuva, lavei a alma nas lágrimas que do meu céu caiam,
sorri o riso limpo na face da noite onde a lua é ela só,
fui amante, mulher amada do amor que abracei,
poetisa rimando versos pelas linhas que meu corpo traziam,
autora assumida dos verbos conjugados que insana profetizei...
Fui o sim, que despindo da nudez mudou de fase em amor,
onde perdida me achei, saltei os abismos que encontrei pelos vales,
olhei o mesmo céu vagando pela terra marcada por meu chão,
nos passos que caminhei sarando minha dor, fui feliz na saga destemida,
onde o sim da minha vida rasgou o véu de todo não...
08/03/2006