Declaração de amor ao acaso
A viagem veio meio sem querer ir
O tempo era de incertezas
Mas o amor não marca encontros com os acontecimentos
Ela já seguia no trem jogando as malas
E ali mesmo deitada tão displicente e generosa
Já eram novas as condutas
O povo cheirava a folhagem mastigada
Aconchegados nas saias coloridas
Aqueciam o corpo sem calcinhas
Amontoados e risonhos, carregados de caminhos
O abacate comido com o sal rumo ao aventureiro
E a noite das pousadas estranhas e pequenas
Avistou entre os cobertores pendurados
O varal de mar aberto ao frio da transpiração ofegante
Os olhares do Moreno
Pensou dizer ao gelo, congela-me, ata-me aos pés!
E sem culpa, sem companhia, declarou-se muda
A noite de expectativas no luar
Adentrou a pequena janela
E veio acordar a cama, como a arrancar o sono
E como procura o banho da Lua,
Na noite gélida e brilhante
O lindo e redondo sonho, fez-se miragem!
O homem do desejo singelo, abriu-se em porta
O pensante apoderou-se do meu lado!
E ela agarrada a paisagem...
E como dois amantes acorrentados
O lado era tão rente de vontades
Que os olhares eram para a frente do mundo
A lua rindo denuncia o silêncio mais amante
E os desejos flutuantes
O amor fez-se no céu de estrelas
O calor era insuportável
As portas ruidosas calaram-se,
O encontro de onde o mundo parou
Finalmente aconteceu ao acaso.