Mangas de Deus
Edson Gonçalves Ferreira
Saí para ir apanhar mangas
Não é que o Menino veio junto comigo
Assim que chegamos no pomar
Ele subiu, feito um macaquinho a mangueira
Lá de cima, começou a jogar mangas para mim
Ria de bandeira despregada
Falava com os olhos
Dizia-me que os frutos são bençãos do pai Dele
Cada manga rosa que colhia
Quando jogava era como se jogasse o Sol em mim
Eu fico maravilhado com tanta generosidade de Deus
No entanto, como chovia, pedi que Ele tomasse cuidado
Os troncos estão escorregadios
O Menino sorriu
Retrucou que eu estava preocupado era com as enchentes
Adivinhou mesmo
Chuva é benção para quem mora bem
Em excesso, ela causa a perda de lavouras, de casas
O Menino, jogando outra manga, olhou-me profundamente
Era como se Ele entrasse na minha alma
E me disse que estamos colhendo o que plantamos
Continuou a colher mangas, sorrindo
Mas disse que iria conversar com Seu Pai a respeito
Desde que nós, homens, façamos a nossa parte
Respeitemos a Natureza enquanto ainda dá tempo
Quando a minha sacola estava cheia de mangas
Procurei o Menino
E, do mesmo jeito que veio, sumiu
Antes, contudo, eu vira Sua boca suja de caldo de manga
Era uma alvorada inesquecível.
Divinópolis, 27.12.08
Observação: Este poema fará parte do livro "Eu não guardo rebanhos, guardo versos", que publicarei, dedicado à madrinha do livro e autora do título, a poetisa Claraluna que, quando estiver pronto, terá que vir
a Divinópolis para a noite de autógrafos.