Bagunça
Tenho as palavras marcadas na garganta
Mas não me vem a língua pra falar
E se só ser poeta me adianta
Me falta o canto da gente que canta
Às vezes, entre os meus dedos, tuas mãos
Insistem, devagar, em se esgueirar
E mais que rápido bloqueiam meus tendões
E os meus nervos queimam ou congelam
Pois que se um pouco o corpo se demora
Em fogo os meus órgãos se ateiam
E o ferro quente que minha pele passa
Se junta e às minhas veias se entrelaça
E deixo minha mão de vez em quando
Teus braços ou tuas mãos encontrar
E um toque tão suave como um pranto
Que parte um pensamento ou um encanto
E se o tórax se dobra com o sorriso
Que passo mais de horas a contemplar
Meus pés passam do chão que ainda piso
E vôo sem destino e sem juízo
E se o suave beijo atordoa
O nó no sentimento só confunde
E o meu coração desabotoa
E num abraço os corações se unem
Se passo o tempo todo só parado
É porque se ando só me perco
Mas se te olho só, tomo cuidado
Pois se te observo muito, é claro
Que vou me apaixonar e tenho medo.