ABERTAMENTE
Abertamente, diríamos
que a poesia deveria
ser igual ao pão,
macio ao paladar da fala.
Pão saído do forno
na temperatura ideal
para não queimar a boca.
Deveria ser pão regado a vinho.
Tinto. Muito. Daqueles baratos
e rústicos demais para distinguir
que cor de sangue é vinho
em muita poesia derramada.
No cotidiano pão e língua,
refém do estômago
a palavra tem o destino
do fundo da panela. É tempero
onde as vontades diriam
no tempo que dura a vida
que até a poesia tem a hora
certa de ser digerida,
basta a fome regular a vida.