A estrada e o Menino
Edson Gonçalves Ferreira
Minha família resolveu comemorar o Natal
Na barragem, na casa do meu irmão
Lá fui eu com meu sobrinho e sua namorada
Barro puro por tudo quanto é lado
Odeio sujar o carro
Tenho mania de limpeza
Chegamos e fui tudo maravilhoso
Meus irmãos e minhas irmãs e meus sobrinhos e sobrinhas adoradas
Almoçamos e, então, resolvi voltar antes da chuva voltar
Deixaram-me voltar só
Pensei com meus botões
Deus está comigo
E lá vinha eu compenetrado, evitando que o carro deslizasse
Por tudo quanto é lado barro e muito verde
De repente, escutei uma risada do lado
Cristalina como a chuva que voltava a cair
Olhei e vi o Menino
Sentado sobre o banco de passageiro que nem sapo
Dei uma encarada Nele
Bota o cinto de segurança
Para quê, poetinha, se Eu não sou de carne e osso como você
Aí minha pioeinta esquentou
Disse-Lhe que nem no dia Dele, Ele me respeitava
Que eu estava dirigindo
Tinha medo de bater o carro
De me machucar
Como? - respondeu-me - Eu não estou aqui?
Não sei, porque você pode ser alucinação de poeta doido
Sou o último que merece a Sua companhia
Aí, a gargalhada Dele ficou mais sonora
Gosto de gente assim como você
Sincero
Por isso estou aqui
Veja os campos verdios
Tudo isso é obra do Nosso Pai
Até o barro que suja o meu carro, Garoto?
Não esquenta, pardal,
Você foi feito de barro, assoprado, é claro
O que conta são os sonhos e, assim, não tema
Você vai viver muito aqui ainda
Para falar de Mim
Ouvi outra risada de criança
E Ele desapareceu
Assim que eu avistara a minha cidade querida
Passei no posto, enchi o tanque, lavei o carro
E, ao chegar em casa, fiz uma oração
Louvado sejas, ó meu Senhor,
Porque Vós sois generoso comigo
E guardai os meus.
Divinópolis, 25.12.08