Birra do Menino
Edson Gonçalves Ferreira
Acordei e vi, logo, logo, o Menino agachado
Ao lado de minha cama, com as mãos no queixo
Os olhos vermelhos de tanto chorar
Perguntei-Lhe o porquê de tanta tristeza
Ele explicou, com a vozinha rouca, a situação
Não nasci para ninguém vender nada
Quando vivi, expulsei os vendilhões do templo
Comecei a trabalhar desde menino
Ajudava meu pai na carpintaria
Ainda encontrava tempo para estudar
Hoje, as ruas estão cheias de meninos com entorpecentes
Não podem trabalhar regularmente, mas viram aviãozinhos
Não estudam, não trabalham, mas muitos roubam
E o Menino caiu no pranto
Peguei-O no colo e tentei consolá-Lo
Olha, Jesus, eu também comecei a trabalhar cedo
Tinha apenas oito anos
Com nove, já fazia trabalhos de Contabilidade
Nunca deixei de estudar
Brinquei como toda criança
Estudei e, também, Jesus, eu não entendo
Ele levantou a cabecinha cheia de cachos e sorriu
Falou-me da chuva e da neve que estão caindo
Que muita gente está sofrendo
Mas que a culpa é da humanidade que não respeita a Natureza
Vocês fazem muitas leis, mas se esquecem de sua humanidade
Concordei, não tinha argumentação
Enquanto alguém trabalha fichado, ganhando miséria
Muitos na rua ganham muito mais na ilegalidade
O Menino me olhava sério e concordava comigo
Depois de consolado, saiu dos meus braços
Correu pela casa, acendeu as luzes da árvore de Natal
E, de repente, voltou onde eu estava
Tomando café, falou só assim
Fui, Edson, Feliz Natal para todos que acessarem a sua página
E para você também, pardal!
Atrevido, não é?
Divinópolis, 24.12.08