Estrangeiro

Irrompe estrangeiro por entre densas matas

A loura clareira atrás das árvores

Vazia por flores e cheia

De luz, inexplorada luz e firme solo

E o sangue que corre pelas finas veias

Se agita como gordas passarolas

E vez ou outra, fora o corpo, goteia

E explode pipocando rubros fogos

E quando escura a noite pós a labuta

Sussurra a descoberta pela alcova

Narrando o seu feito loquazmente

Parlando da tão fértil terra roxa

E das praias onde o mar golpeia

Do litoral as tão brancas areias

E do brilhoso sol que ilumina

Das moças mais bonitas as morenas coxas.

Paraíso encravado em entre-montes

E regado por um caudaloso rio

Um denso véu que deságua com um arrepio

Nas praias tão notórias desse mundo

E profundas mas tão claras, densas águas

Espelhos fluidos em piscinas cristalinas

Que refletem do real o hipostático

Mas que apenas com um toque se farinam

Arbustos fartos de pequenos frutos

Delícias, maçãs de doces sucos

E robustas pêras de abundante seiva

Roxas amoras e cerejas tão vermelhas

Que o sangue vivo não vence ao compará-los

E a relva tão macia e rente ao solo

E as muitas tais mulheres de acentuadas curvas

Que sorriem e lhes cedem os firmes colos

Descreve pela noite as maravilhas

Tão lindas que só os olhos podem crer

Tão ricas que não há no mundo dinheiro

Nem senhor tão rico que as possa ter

Descreve a beleza desse sonho

E dessa realidade antes só sua

Descreve cada vento, cada curva

E cada gesto e cada moça nua

Sedentos das todas cores que se podem

Os homens tomaram o que antes era do homem

E antes do homem não era de ninguém

Lavraram e queimaram as férteis terras

Cuspiram e secaram cada gota

Cavaram e furaram cada metro

E desfloraram as tão belas donzelas

E destruíram tudo que hoje letro

Agora só sobraram lamacentas terras

E ocres gotas de antes grandes rios

E a loura clareira que antes fora

Agora é um buraco só e escuro

Onde moram em tão grandes casas

Feitas de tudo que se destrói

E a água das tão lindas praias,

As brancas areias, hoje corrói

E das donzelas só sobraram putas

E nas terras salgadas sobrou nada

E da vida passada acabou tudo

E o paraíso se acabou

E o homem se matou só em seu quarto

Sem aprender o que lhe foi tão custoso

Que um homem só vive são a vida

Quando guarda o que tem de precioso

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 23/12/2008
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