A tempestade que há em mim
Há ventos ruidosos soprando em mim,
como a tempestade em alto mar
que revira não só as ondas,
mas as vidas por sobre elas.
Sinto como se tua partida chovesse
na alma dores de um amor que
nunca foi meu, do
tempo que roubei apenas de ti.
Há nuvens gris pairando por
sobre o horizonte que não mais
vejo, porque o sol adormeceu
nas horas em que os amantes
teciam palavras no escuro
de um quarto agora vazio.
Mas a chuva também leva
as lágrimas que ainda verto
por ti,e com elas as
lembranças de outrora.
E tudo, sei, passará como o
próprio tempo, implacável na construção
da palavra que o verso
ergue no poema.
Preciso, ainda, maturar a semente
dorida que plantaste em meu
peito, para poder arrancá-la
do solo dantes fecundo.
É assim que as paixões são tecidas,
no fio tênue que separa a dor do
prazer, na linha nem sempre
reta da fantasia que se
contrapõe à crua realidade.
Tu ainda insistes em permanecer
em meus versos, sangrando entre
os dedos, rasgando a alma e
dilacerando a falta de teu corpo no meu.
Mas passarás, assim como a
tempestade que há em mim.