O disfarce das palavras

Tento disfarçar a dor que sinto,

na arquitetura do poema,

na construção do verso.

Disseste não poder viver dividido,

quando em mim o reflexo

de tua partida

causa dano e abandono.

Queres um recomeço, pedes que

viremos juntos a página que

foi tecida com nossas mãos,

na encruzilhada de um caminho

agora desfeito, no rascunho

de um desejo incontido.

Tuas palavras não me consolam,

teus votos de que eu fique

bem não me convencem.

Há, em mim, nesse momento,

apenas tu e o que a vida

teceu em alguns poucos encontros.

Não é fácil virar a página escrita

com o suor do desejo,

com as lágrimas da despedida.

Tens razão quando dizes

serem teus problemas infinitos

perto dos meus, mas a paixão

desconhece os descaminhos

do cotidiano e tua necessidade

contradiz o que sentes.

Não preciso da metáfora

quando teu discurso usa a

literariedade das

palavras cruas e precisas.

Preciso ainda de ti, mesmo

sabendo ser impossível minha

vontade, ser inútil dizer-te sim.

O disfarce das palavras usa a

máscara do poema para

deixar exposto nos fios

entrelaçados desses versos

que a paixão que sinto

é um complexo teorema.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 21/12/2008
Código do texto: T1346756
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