Nego
Nego-me a cair, não outra vez...
fingir-me lúcida ou dizer que ouço o que nada diz,
refazer caminhos que negam a fé,
pegar a mão que a vida contradiz,
seguir o conselho de quem não sabe quem é.
Nego-me a cair,
acreditar nas promessas vazias de quem só sabe mentir,
espíritos vencidos, sem paz, sem destino,
olhares egoístas, sem vida, sem brilho,
na noite que tinge o dia que há de vir.
Nego-me a negar o fato de amar,
de sorrir diante dos abismos por saber voar,
de entregar-me às mesmices de um cotidiano hipócrita
que proferem amanhãs que nunca hão de chegar,
nas orações de um passado de falsas retóricas.
Nego-me abrigar-me à sombra da covardia
que incidi sobre o mundo em vértices “ais”,
fechar meus olhos, esconder meus passos,
remeter-me ao anonimato dos que não possuem a paz
por alimentarem-se do sangue que nesse chão recai.
Nego-me a negar o que sou,
romper com meus ideais,
vender minha alma por um pouco da falsa paz.
28/03/2006