Deixa-te ouvir-me

Entre a tua voz e a minha,

qualquer distância é curta

e qualquer desejo é louco.

Chamo-me discurso afável.

Teu corpo é presa que me encanta,

mel que me alimenta,

oração que me protege.

Quando eu for homem e tu uma mulher,

seremos o que nunca inda fomos livres.

Deixa-te ouvir-me e seremos o verbo.

Quando meus olhos te vêem se cegam

porque há poeira em teu olhar

e brasas vivas no meu cerne.

Dir-te-ei o que mansamente desejo

e inadvertidamente tu não vês,

mas se queres sentir-me deixa-me ter-te

e verás que tão grande amor mora em meus desejos.