A sede do Menino e do poeta
Edson Gonçalves Ferreira
Ouvi só uma voz
Você está com sede, poeta?
Era o Menino que tinha chegado
Vira, do Céu, a chuva toda que caíra
E, agora, sabia que muitas cidades estavam sem água
Eu respondi que estava com sede
Ele, com seus olhinhos brilhantes, retrucou
Sede de amor ou sede mesmo?
As duas, respondi
Todas as duas são difíceis de matar
E o Menino começou a correr pela casa
Eu gritei, mansamente:
Não vou correr atrás de Você
Não sei se terei água para tomar banho
O Menino, então, voltou e pegou nas minhas mãos
Levou-me até a sacada e me mostrou a lagoa lá no fundo
Entendi, na hora, o recado
Se não tivéssemos poluido os córregos, as lagoas, os rios
Hoje, não estaríamos passando por problemas
Virei para o Menino e disse:
Eu sempre luto por causa da água
O líquido precioso da vida
Só que os homens não me dão atenção
O Menino esboçou um sorriso feito o de Monalisa
Depois, disse-me: Eles não nos entendem
Fiquei pensando, pensando
E, quando O procurei, não estava mais ao meu lado!
Divinópolis, 19.12.08