NO LUSCO-FUSCO DA HUMANIDADE
No dealbar de uma nova era para a nossa interioridade
Vivemos
E sentimos espasmos e a perífrase
Do que éramos
Ou costumávamos ser
No Lusco-Fusco da humanidade
Sentados calmamente
Como assistentes privilegiados
No conforto de uma relação
Que encerrava o fim em si mesmo
Mesmo que para esse final
Víssemos
Mas não quiséssemos
Uma real e coerente solução
Amantes nas sombras
Amantes das sombras
E era nas sombras
Que algo podia germinar
Mas não se pode viver eternamente nelas
Sem antes
Algo de essencial
Terminar
E quisemos por um fim
Às visões que tínhamos
Do fim dos dias
Sem sabermos se eram os nossos
Ou da nossa risível descendência
Sonhávamos com um terminus
Que nos assustava de morte
A uma horrível cadência
Seríamos então realmente felizes?
A treva poderia ser um caminho para a eternidade?
Poderíamos violar impunemente o espaço-tempo
Sem qualquer castigo para essa grave e nefasta prevaricação?
Talvez sim
Porque os sonhos e as visões não eram natas
Tinha sido uma espécie de imposição
Por quem
Ou porquê
Nunca saberemos responder
Sei apenas que para colocar um ponto final
Nesses fantasmas
Teríamos que nos separar
Pois se juntos éramos um mundo
Separados seríamos um Universo
Bem mais fácil de sustentar
Encruzilhadas surgiram pois
No frio da nossa noite imortal
Sacrificámos logicamente
O nosso elo fundamental
Vivendo sozinhos
O tempo que nos restava
Neste tipo de anti-lógica
Que acabaria
Por nos ser
Fatal
No Lusco-Fusco da humanidade