NO LUSCO-FUSCO DA HUMANIDADE

No dealbar de uma nova era para a nossa interioridade

Vivemos

E sentimos espasmos e a perífrase

Do que éramos

Ou costumávamos ser

No Lusco-Fusco da humanidade

Sentados calmamente

Como assistentes privilegiados

No conforto de uma relação

Que encerrava o fim em si mesmo

Mesmo que para esse final

Víssemos

Mas não quiséssemos

Uma real e coerente solução

Amantes nas sombras

Amantes das sombras

E era nas sombras

Que algo podia germinar

Mas não se pode viver eternamente nelas

Sem antes

Algo de essencial

Terminar

E quisemos por um fim

Às visões que tínhamos

Do fim dos dias

Sem sabermos se eram os nossos

Ou da nossa risível descendência

Sonhávamos com um terminus

Que nos assustava de morte

A uma horrível cadência

Seríamos então realmente felizes?

A treva poderia ser um caminho para a eternidade?

Poderíamos violar impunemente o espaço-tempo

Sem qualquer castigo para essa grave e nefasta prevaricação?

Talvez sim

Porque os sonhos e as visões não eram natas

Tinha sido uma espécie de imposição

Por quem

Ou porquê

Nunca saberemos responder

Sei apenas que para colocar um ponto final

Nesses fantasmas

Teríamos que nos separar

Pois se juntos éramos um mundo

Separados seríamos um Universo

Bem mais fácil de sustentar

Encruzilhadas surgiram pois

No frio da nossa noite imortal

Sacrificámos logicamente

O nosso elo fundamental

Vivendo sozinhos

O tempo que nos restava

Neste tipo de anti-lógica

Que acabaria

Por nos ser

Fatal

No Lusco-Fusco da humanidade

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 18/12/2008
Código do texto: T1342239
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