Chaga
Loucura maldita e desregrada
Facada hostil e silenciosa
Espinho de rosa, espada
Que me atravessa o corpo e me rouba
O calor e o frio e a chuva
Que me arruína por dentro
É o vento que me afasta de tudo
Imundo, é chaga dolente,
Serpente, peçonha e desgraça
Não passa, não cura, não fecha
Me amassa, me rói e amordaça
Corrói e não passa, não passa...
Desatino perdido não-vivo
Não-morto, ferido, esquivo
Castigo penoso, verdade, mentira
Me atira, me fere a noite
Açoite, é chicote, é sombra
E zomba e me esquece de todo
Sozinho, e tonto, enjoado
Passado, embolado, solado
Curvado por entre seus braços
Espaços vazios marcados
Me laça, me prende, me ata,
Me abraça, me mata, me mata...
É o corvo presságio de morte
É a sorte do desventurado
É o fado, é o fardo pesado
É o peso, é o peito molhado
Arrancado do corpo do homem
É a fome, é a guerra, é o lado
Madrugada do embriagado
Alvorada de quem não tem nada
É a fada sem asa, é o brado
Gritado, é a angústia, é a labuta
É a fruta, é o erro no plano
É a luta, te amo, te amo...