Dúvida

São vis, mas carinhosos os teus afagos

Perdidos entre o peso de um seixo

E o afeto tenro de um ungüento

Perdido entre o Tamisa e o Tejo

Entre o mar aberto e os dóceis rios

Entre a pausa eterna e o momento

Entre o vilarejo e o cais do porto

De onde partem cheios os navios

São pétreas as serpentes dos teus lábios

E fazem confundir o vivo e o morto

É firme e onírico o seu corpo

Que, lírico, irriga os meus versos

E drena a minha branda alma aos poucos

E me traz os devaneios de um louco

Cujo os pensamentos são encobertos

Por brumas, véus e por sussurros roucos

É quente e dolente o seu rosto

Onde os meus beijos ardem em estar perto

E firmes e esguias tuas costas

Onde minhas mãos derretem-se e refazem-se

Não se sabe real ou vã miragem

Não sabe se é barreira ou é passagem

Não sabe se é a noite na estalagem

Ou se a manhã pra se seguir viagem

Não sei se é a lágrima ao vento

Se é demônio, santa ou pensamento

Se é o leito fundo ou é a margem

Se é o passado, ou é o pressentimento

Seu toque traz o suor e o arrepio

Que não se sabe se é infernal ou santo

Que não se sabe se é silêncio ou canto

Se é carícia fina ou é açoite

Se é amargo pranto ou é sorriso

Como o homem que se fecha e teme tanto

Que dorme protegido e são a noite

E acorda de manhã, mas sem juízo

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 15/12/2008
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