Vem, ó vem

Vem, ó vem .

Vem, vem, vem

minha senhora poesia.

Vem

estou aqui

nu

pronto para te receber

e celebrar contigo

os secretos mistérios

da desencarnação.

Vem

minha querida

ninguém perturbará

os sonhos

que são nossos

e temos de sonhar.

Vem vem

dormir

nos meus braços

ouvir o doce acalanto

que desde o princípio do tempo

te estou a sussurrar

no vento.

Vem, vem, vem

minha querida

meu coração te espera

com doces palpitações

que se ouvem

em todo o universo

cá perto

lá longe.

Quero sentir-te

aqui junto do peito

aninhada

como se fosses

a lobazinha

que é minha

porque me está destinada.

Vem e toma-me

Sou teu

já não sou meu

já não sou eu .

Geraldes de Carvalho

(de 48 poemas de muito amor e alguma futilidade)