Aos pedaços
Te entrego inteiro, claro e sem cuidados
Todo o meu corpo, tenro e sem costumes
E o meu grito, palro e indeciso
Te dou meus ossos, fracos e esmagados
E o meu sorriso, falso e sem juízo
Toda minha mente, farta de legados
Te dou meus pés e mãos, desencontrados
E os meus largos passos indecisos
E os meus caminhos tortos e cruzados
E os meus falsos ferimentos torpes
E os meus traumas já cicatrizados
E minhas feridas expostas e abertas
E todas as mentiras encobertas
E todos os meus erros castigados
E todos meus prantos e meus pleitos
Te dou minha vida toda, tediosa e parca
Minha pele, minha cabeça e o meu peito
Minhas costelas, o meu sangue, minhas marcas
Minhas veias, minhas artérias, esgarçadas
Meus tendões e os meus nervos, desfiados
E a máscara que a mim mesmo protegia
Meu presente, meu futuro, meu passado,
Te dou meus sonhos, pesadelos e pecados
Te dou, completas, minhas noites e os meus dias