As distâncias do Amor
Estas distâncias que simulam estranhamentos e desconformidades
conseguem, com tudo aquilo que têm de concretude,
solidificar esse ímpeto que nos acomete
e nos faz reféns de um mesmo e insano sonho.
Quando te fazes de minha presa, o fazes porque algo dentro de ti,
escamoteado por desejos possíveis e outros nem tanto,
clama pelas coisas que um coração não pode suportar;
algo que teu corpo frágil de mulher cativa de um só amor anseia
e te faz perdida como se num labirinto de emoções adentrasses.
E são essas emoções que, uma vez afloradas, dão sentido
a estas linhas que me fazes perpetrar.
E se por um lado tens essa pecha de ser minha presa, em outra dimensão,
e inexoravelmente, serei o que vai em teu encalço;
de presto, meu armamento em nada lembra o poderio de hordas
sanguinárias:
antes, impregna-se de todas as vontades voluptuosas
que um amante tem pelo objeto desejado.
Balancem os ventos florestas inteiras e por terra joguem
fileiras imensas de árvores centenárias;
incêndios vultosos corram solto pelas pradarias
e destas às densas áreas verdejantes;
lavas incandescentes desçam das entranhas expostas da Terra
e se espraiem por vales, planícies e sopés das montanhas;
nada possui a extensão do que possa ser essa paixão.
Essa paixão,
que se alimenta de lembranças de fatos ainda por nascerem;
de gestos, uivos e gemidos presos num tempo enjaulado em
nossas vontades;
de circunstâncias, enfim, nas quais ainda
não temos completo domínio;
Essa paixão,
que nada mais é que um fruto esperando ser colhido no pomar
incerto de sonhos sonhados a dois.
Essa paixão,
nosso maior crime e cuja pena capital a nós imputada
é a imediata e avassaladora união física de nossos corpos,
inda que períodos de tempo e dimensões de espaço a inviabilize.
Essa paixão é a nossa tábua única de salvação nos redemoinhos
vorazes das insolvências;
Essa paixão a nada, nem a ninguém mais pertence.
É tua, mulher sonhadora!
É minha, poeta errante,
unidos pelos sonhos e pelas vontades que ignoram circunstâncias mensuráveis.