CANÇÃO sem TIGO nem MIGO

O que eu quis em minha vida foi um nascimento.

Criar uma arquitetura no silêncio.

Eu encaro a Grande Morte, que enfia as asas no tinteiro

e inscreve um abismo na minha testa.

Um menino fará a pergunta que me reduzirá à incandescência.

Fosse eu um deus-pelado deitado

na beira de uma piscina e acariciasse as formas do corpo

nos reflexos d'água,

haveria mulheres e o sol me envolveria de amores angustiantes. Houvesse uma forma

de arrancar do peito a acústica do amor!

Um anjo-decrépito, não um homem. Eu sou o sol nu!

Eu sou o sol esfarrapado na túnica de chamas.

O amor é uma cólera, a beleza um canibal.

Os mini-sóis abanam aos rabinhos de espermatozoides

ao te verem transtornada

de nudezas escaldantes, feito aurora roída pelas ratazanas.

Ficará sobre a terra um menino. Tão puro quanto a graça feminina - apenas um menino. Teu sósia. Eu o amarei.

Estou sob o mar. Hostil. A minha cabeça está dentro da ostra de esmeralda-carne.

Uma floresta de bocas adocicadas se beijando. O amor desfaz os automóveis.

A mulher-anjo faz de tambores as cabeças dos homens oprimidos.

Um balé no corte da gilete anima discursos e propaganda-política

sob um arco-íris de relâmpago e batom

e

os acampamentos nômades e bárbaros

permanecem esperando as legiões da ordem

trazerem a bandeira da paz,

assim, perdido no amor, funebreclarividente de cios desconexos,

serei público