Morda a língua
Edson Gonçalves Ferreira
Está todo mundo louco
Não sabem diferenciar agente de a gente
O agente de turismo vende dólares e euros
Viram a palavra foi escrita juntinha
Juntinho, assim, gente, tudo é bom
Podemos ser agentes do cupido do amor, já pensaram?
Agora, lembremo-nos de que agente da passiva
É aquele que pratica a ação
Sim, gente, a ação de uma oração na voz passiva
O rico foi assaltado por pivetes
Pivetes é o agente da passiva, agente escrito juntíssimo!
Agora, a gente é substantivo comum
Indica quantidade de gente aproximada
Aproveitando as explicações,
Voltemos ao sujeito agente que comete a ação
E ao sujeito paciente que sofre a ação
Adivinhem que é, geralmente, o sujeito paciente na vida
Já pensaram -- Suspense... --
Somos nós, os pobres
Pobre é sempre sujeito paciente
Sofre a ação cometida por quem está acima dele
Aliás pobre só aparece na página policial
Quando é manchete é está no meio de alguma desgraça
Graça alguma acho nisso, só estou refletindo sobre o assunto
A maioria da população do mundo é pobre
E isso dói, não dói, gente?
Eu amo a humanidade e, assim, não aceito tamanha diferença
Por causa dessa diferença de classes sociais
Surgem as diferenças dialetais na língua
Morda a língua, mas não fale mal da língua
Agora, quanto aos pobres -- sendo eu um deles -- fico com dó
Ó gente, como pode?
Divinópolis, 05.12.08