AMANDO O HOMEM DAS LETRAS
Às escondidas de si mesma, ela caminha por chamas enciumadas;
Queria pra si as estrofes e quadras, que partem de seu menestrel predileto;
Sonha viver a paixão sob seu teto, achá-lo dentre cobertas entrelaçadas;
Ver suas rivais derrotadas, manter seu amante, ora distante, sempre perto!
Quisera como ele, verter de su’alma palavras perfeitas de entrega;
E confessar o que sua rotina não nega, que é percalçar suas lidas virtuais;
Fazê-lo crer que o ama demais, jurar que o vê mesmo em sanha cega;
Que em suas lágrimas lhe rega e que ninguém o venera como ela o faz!
Em seus dias de clandestino bem querer, ela padece crescente fascínio;
Tentando entender o domínio, querendo vencer os dardos da impossibilidade;
Represando a mais louca vontade de lançar pelos ares o derradeiro tino;
Amá-lo como se ama o desamparado menino e afogar o afã platônico em águas de realidade!
Nem sabe e nem sonha o tanto que ela lhe quer, aquele homem das letras;
Mesmo suas silhuetas parecem expor o desenho do que o coração não disfarça;
A distância não finda a paixão que não passa, seu pensar é prisão que o mantém em saletas;
Quem sabe um dia se movam as maçanetas, e surge o seu poeta, que lhe beija e abraça?