AMANDO O HOMEM DAS LETRAS

Às escondidas de si mesma, ela caminha por chamas enciumadas;

Queria pra si as estrofes e quadras, que partem de seu menestrel predileto;

Sonha viver a paixão sob seu teto, achá-lo dentre cobertas entrelaçadas;

Ver suas rivais derrotadas, manter seu amante, ora distante, sempre perto!

Quisera como ele, verter de su’alma palavras perfeitas de entrega;

E confessar o que sua rotina não nega, que é percalçar suas lidas virtuais;

Fazê-lo crer que o ama demais, jurar que o vê mesmo em sanha cega;

Que em suas lágrimas lhe rega e que ninguém o venera como ela o faz!

Em seus dias de clandestino bem querer, ela padece crescente fascínio;

Tentando entender o domínio, querendo vencer os dardos da impossibilidade;

Represando a mais louca vontade de lançar pelos ares o derradeiro tino;

Amá-lo como se ama o desamparado menino e afogar o afã platônico em águas de realidade!

Nem sabe e nem sonha o tanto que ela lhe quer, aquele homem das letras;

Mesmo suas silhuetas parecem expor o desenho do que o coração não disfarça;

A distância não finda a paixão que não passa, seu pensar é prisão que o mantém em saletas;

Quem sabe um dia se movam as maçanetas, e surge o seu poeta, que lhe beija e abraça?

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 05/12/2008
Código do texto: T1320230
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