O rebanho e o poeta
Edson Gonçalves Ferreira
Estava eu a pensar
Com o verbo no infinitivo e não no gerúndio
Feito português antigo que anseiava por viagens grandiosas
Quando o Menino entrou na minha sala dizendo
Que o meu rebanho eram os meus versos
Que com eles, eu poderia apascentar mais ovelhas ainda
Olhei-O bem nos olhos, embora Os Dele até me ceguem
Luminosos demais, mais luminosos que o Sol
E, então, perguntei
Se Ele não achava que todo poeta, de tanto sonhar, é doido demais
O Menino, dando uma viravolta, respondeu-me que não
Esclareceu que o Pai criou as coisas todas do mundo
E que o dever dos poetas é cantar tudo
Esclareceu que somos como as cigarras
Saímos da terra para cantar
E,depois, quem sabe, o nosso canto ficará
Resolvi, dessa maneira, contar-lhe o que acontecera comigo
Ontem, um "mendigo" me pedira dinheiro
Eu perguntara para quê
Estava preocupado pelo aspecto do jovem
Parecia normal, bem vestido
De modo algum, lembrava-me um mendigo
Ele me respondeu que era para comprar droga
Falei para o Menino que eu não dei
Não xinguei, só disse para o jovem ir estudar e trabalhar
O rapaz foi-se embora, tranqüilamente
O Deus-Menino, fingindo que brincava com um tamanco de madeira
Desses que a gente ganha de presente de quem vai à Holanda
Sorriu e me disse que Deus Se revela de muitas formas
Então, bancando o atrevido, disse que eu estava apertado
Ainda iria aplicar e corrigir provas
Que eu estava danado, porque não conseguia acessar a Internet
Aí ouvi uma gargalhada maravilhosa do Menino
Olhei-O e, em seguida, percebi
Eu não precisava da internet
O Menino, o Filho do Onisciente e do Onipresente, estava ali
Do meu lado e, quando me voltei, para dizer isso a Ele
Ele tinha ido embora como entrara
Deixava no meu coração aquela mensagem gostosa
Não sou guardador de rebanhos
Sou o que apascento os meus versos
Feitos com o sangue da minha poesia
Para encher o coração de todos de luz.
Divinópolis, 04.11.08