AMOR CRIADOR

Célere o instante

Em que serás

Concebida...

Removida

Incontinente

Do ignoto nada

Alçada ao intento

De anima vida

À conjunção

De ternurosos astros

Confrontados ao espaço

Cortarás uma noite

Longínqua

Pelo clareado luarento,

Virás estela decaída,

Num soberdio cavalgado

A geminar disparos

De novadio feitio raiado

Guiarás, nobre, tua essência

Às entranhas desta Terra

Ao instante que despencas

A união de um par amante

Em galharda selvatiqueza...

Estes cingirão suas orelhas

Em vozeadas roucas,

De lábios parelhos,

Desimpedidos de vestes

Em camas empapadas

Por ciosas sudoreses

Talantes desatinos...

Desvarios em hinos;

Alvitre genuíno;

Brados embargados;

Mãos trançadas;

Prazer inominável

Duplicado derrame

Derradeiro, inevitável

Serás inaugurada, enfim!

Tua derradeira batalha

Estará encetada

Em dossel vago...

Fundearás aninhada

Após o amoroso ato,

Recém germinada

Ao genitor regaço

Esperarás lá, em entreato...

Proliferarás por ti...

Ababelada

Em divisões celulares,

Dimensões resolutas;

A revolver-te e nutrir-te

Desta insurgente

Vida bruta

Quem sabe

Já devanearás

Embalada,

Quiçá precoce,

A pensares austera

Em tua venturosa

E seqüente estação...

E tal a ditosa criadora tua

Tornar-te-ás, um dia, mãe?

Sim... É certo, brotarás radiosa

Em primaveris campinas...

Rebento, menina em botão,

Depois fúlgida mulher,

Resplandecente rosa

A espargir fecundação,

E vida ainda mais

Pelas madrigais trilhas

Que, distraída, semearás...